sábado, 29 de setembro de 2007

“A posse é o Túmulo do Desejo”


Numa dessas manhãs encontrei com um amigo, como de costume. O papo surgiu quando eu tive que explicar que a noite não foi tranqüila, pois tive mais uma daquelas insônias. Falamos, então, de medicamentos pra dormir, apesar de eu não considerar interessante o uso de qualquer tipo de substância para me obrigar a dormir.A conversa se estendeu e, não sei por que razão, chegou a uma frase de caminhão, erudita demais para os padrões utilizados tradicionalmente nas traseiras dos caminhões que rodam este país. Como aquela frase, tão intensa e racional, poderia estar naquele caminhão? Geralmente as mensagens são machistas, elementares e pouco sofisticadas. Mas aquela era diferente, e mexeu com meu amigo. Mexeu com ele e comigo também para dizer a verdade. “A Posse é o Túmulo do Desejo”. Não precisou de dois segundos para eu entender tudo. É claro que é óbvio, mas confesso que é estranho reconhecer uma verdade numa frase de traseira de caminhão. Uma verdade quase absoluta. Eu e meu amigo concordamos com a frase e com nós mesmos. É incontestável o excitante sabor do desejo, do desafio de se conquistar alguém. O problema é que, como analisa Freud, um desejo sempre acaba quando tomamos posse do alvo da aspiração. Na verdade, é isso mesmo... “um desejo” acaba, mas “o desejo” não. Este dura para sempre, o que desaparece é aquele propósito, a paixão por aquilo que se busca alcançar. E esse sentimento é que aflige, decepciona, nos derruba. Entendemos então que é esse mistério, o mistério do desejo, que nos transforma em pessoas indiscutivelmente predestinadas a correr sempre atrás de um novo desejo, uma nova razão para pulsar.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Nervos em frangalhos


É incrível como há pessoas nesse mundo que não têm o mínimo de bom senso. Em frente a minha casa há uma daquelas igrejas evangélicas alucinadas, esquizofrênicas e doentias, uma daquelas Assembléias de Deus.

Clamores, gritos, urros, berros e gemidos transformam as cerimônias religiosas do local em verdadeiros manicômios. E o pior é que quem fica doido somos nós, os vizinhos. Mas que inferno é aquele! Em casa, ninguém consegue trabalhar, ler um livro, assistir a um filme, descansar, muito menos dormir. E isso é praticamente todos os dias da semana, inclusive sábados, domingos e feriados.

A sensação que tenho é que moro defronte a um hospício. Começo a ouvir aqueles rugidos no início da noite. E, para o meu azar, as penosas celebrações duram mais de três horas. O que é isso? Não acredito que esse povo tem garganta para gritar durante todo esse tempo! E quando começam os cânticos... instrumentos e vozes desafinados, notas musicais equivocadas, melodias sem harmonia... e olha que percebo isso tudo sem ter nenhuma formação musical.

Há dias que não consigo nem dormir à noite, após o culto. Isso acontece geralmente aos domingos, que a louvação termina mais tarde. Eu deveria receber uma indenização por isso, um tipo de auxílio mental.

Mas o que me deixa mais transtornada é a cara daquela gente indo embora, como se nada tivesse acontecido, como se eles não tivessem arruinado meus nervos, como se eles não tivessem acabado com minha noite e meu sossego. Eles vão, e eu fico. Fico com meu sono perdido, minha paz destruída e apreensiva para a próxima sessão de descarrego, que começa amanhã, no mesmo horário...

domingo, 16 de setembro de 2007

Quando eu subi o morro...

Estava lembrando disso ontem, quando fui à décima edição do Festival de Música de Botequim, o Femusquim, no Morro dos Alagoanos...

Ano passado subi o Morro Jesus de Nazareth, em Vitória. Fui à casa de um amigo do meu irmão, Gladson, colega dele da faculdade de Direito – e quem foi que disse que quem mora no morro não tem instrução, não faz faculdade, não tem educação? O povo do morro é cult... É tão persistente, e resistente, que se a educação não sobe o morro, o morro desce a procura da educação.

Fiquei entusiasmada com o convite. Além de subir o morro do Nazareth pela primeira vez, eu e meus amigos íamos tomar uma cervejinha e comer um peixinho frito, cardápio típico dessa ilha bacana cercada por mares.

Ao subir, confesso que fiquei apreensiva. São inúmeras as notícias que nos chegam pela imprensa do tráfico e da violência no morro. Mas estava muito a fim de conhecer aquele lugar.

As ruas estreitas só permitiam o trânsito de um automóvel por vez. Fomos subindo até descobrir uma das vistas mais lindas desta cidade, uma visão única da Baía de Vitória. Como o amigo do meu irmão já havia avisado aos vizinhos que chegaríamos, chegamos bem e fomos muito bem recepcionados por todos, bem recepcionados não, fomos recebidos como reis.

Ao chegar ao topo do morro, comecei a perceber ali, que estava diante de um lugar privilegiado, que nenhum abastado das áreas nobres da capital teria o prazer de gozar, isso mesmo, sentir prazer, ter satisfação, se deleitar.

Mas a nobreza e a cortesia do morro não se resumiam apenas nisso. Quanta delicadeza e alegria nos moradores daquele espaço... esforçavam-se ao máximo para nos fazer sentir bem, em casa... cerveja gelada, uisque 12 anos, bebidas diversas, comida farta - uma enorme quantidade de mariscos e frutos do mar -, qualidade digna dos melhores restaurantes de qualquer grande cidade desse país. E tudo patrocinado pelos anfitriões, os amigos do morro Jesus de Nazareth.

Não me lembro de ter sido tratada com tanta gentileza e tanta fartura em nenhum desses encontros da alta sociedade, que casualmente tenho oportunidade de freqüentar. Muito pelo contrário, nessas reuniões o uísque é escasso e a cerveja é fria - até porque povo rico não sabe beber mesmo –, a comida é restrita e sem gosto e todo mundo finge e se comporta como se estivesse em uma grande cena, com gestos forçados, sorrisos pouco espontâneos.

É... O povo do morro é que é feliz... Vê as coisas de cima... Do alto...
Muita alegria, muita música, muitas histórias, muita comida, muita bebida, muita fartura. Nossa... Que estranho... Que triste... Como a Praia do Canto, a Mata da Praia, a Ilha do Boi e a Praia da Costa são insípidas.

domingo, 2 de setembro de 2007

Paradigmas


O rock de sábado foi bem legal...
Fui até a casa de Grace e Dodão, na Gruta da Onça, para o chá de BEBER... Pessoas legais, conversa interessante, muitos músicos (a maioria...), cerveja gelada e comida boa...

Num desses papos animados, eu e Marcinha (Marcinha é amiga da minha irmã desde a universidade e virou minha amiga também) contamos sobre o nosso primeiro dia na Ufes.

Apesar dela ter feito Ciências Sociais e eu Jornalismo, percebemos que havia algo em comum no nosso primeiro dia acadêmico... uma mania incontrolável dos professores dizerem a palavra “paradigma”.

Era um tal de “precisamos quebrar paradigmas”, “estão aí os desafios dos novos paradigmas”, “precisamos questionar os paradigmas da modenidade”, “a tendência é a ruptura dos paradigmas”...

Não sei porque, mas tive a impressão de que eles usariam essa sentença para o resto dos meus dias naquele lugar... o problema era que ninguém na escola havia me explicado o que era o tal do “paradigma”, nem no pré-vestibular eles mencionaram a expressão.

Eu e Marcinha pensamos a mesma coisa: ou esses caras estão querendo aparecer às nossas custas ou somos ignorantes mesmo.

Enfim... os anos se passaram, a colação de grau chegou, saímos p/ batalhar nossas vidas, mas continuei com a estranha sensação de que os tais paradigmas não foram totalmente rompidos. Dizem que paradigmas e crenças podem subsistir por séculos... vai ver que é por isso que os professores universitários continuam perseguindo tanto os pobres coitados.

Bom, nem sempre os paradigmas são maus, mas que é bom rompê-los ah... isso é... Se eu soubesse que desmitificar crenças e questionar verdades era tão interessante, teria começado a quebrar paradigmas muito antes de entrar na Universidade...

Eu engasguei com bala soft


Cara, quem acima de 20 anos de idade não conheceu aquelas deliciosas e famigeradas "Balas Soft"? Então... participo de algumas comunidades no Orkut sobre o assunto e resolvi deixar aqui um depoimento que postei numa dessas comunidades. O relato é verdadeiro...


A vovózinha macumbeira me salvou


Quase fui vítima dessa bala assassina. O ano era 1978 e eu tinha apenas 8 anos. Uma vizinha maldita me deu umas 3 ou 4 balas soft e me chamou p/ ir até a casa da avó dela, que era adepta da religião de candomblé.


Fui eu feliz e saltitante na casa da vovózinha. Ela morava no alto de um morro com inclinação de quase 90 graus. já no pé do morro comecei a descascar a peste da bala. Coloquei na boca e comecei a subir aquela montanha, num dia de verão, com a temperatura explodindo de tão quente.


De repente, do nada, mas do nada mesmo, a demônia da bala escorregou e parou bem no meio da minha garganta. A maldita vizinha subia o morro de mãos dadas e conversando comigo. Só que como ela percebeu que eu estava quietinha e comecei a apertar as mãos dela com tanta força, que parecia quebrar, ela resolveu dar o ar da graça e olhar pra mim.


Foi quando ela entrou em desespero ao me ver completamente roxa, verde, sei lá que cor que era... Foi então que ela começou a me puxar pelo braço e subir o morro correndo p/ chegar na casa da vovózinha.


Nem preciso dizer como eu estava... o ar não passava mais, minhas vistas se embaralharam e meu corpo amoleceu... Eu tava até vendo anjinhos na minha frente... tava certa que ia morrer... ia sim, tenho certeza...


Nisso já havia passado uns 7 minutos até que, enfim, chegou na casa da vovó macumbeira. Ela pediu p/ eu ficar calma (claro que eu ia ficar, não tinha mais nada a perder, minha vida já estava no fim...). Eu só pensava como eu podia ter a capacidade de morrer tão jovem e de forma tão estúpida.


Bom, fiquei calma, e a vovózinha começou a fazer uma oração colocando a mão sobre a minha garganta. Uns 2 minutos depois, estava eu salva, sem nenhuma ardência na garganta e aliviada.


Como a vovózinha não morava perto de mim, eu nunca mais me arrisquei a chupar a maldita bala soft... Sabe lá se aconteceria tudo de novo... Deus me livre, ninguém merece engasgar duas vezes com essa peste!